A descoberta do diagnóstico

Chega abril e, com ele, muitos acontecimentos na minha vida: é o mês de aniversário da minha mãe, do meu marido e da minha filha, além, é claro, de ser Páscoa na maioria dos anos. E, no ano de 2016, adicionei mais uma data a esse mês já tão cheio: o dia 2 de abril – Dia da Conscientização do Autismo.
Desde que iniciei minha jornada nas redes sociais, eu promovo uma ação de conscientização com minhas seguidoras e algumas colegas scrappers. Mas este ano foi diferente, pois infelizmente perdi meu pai numa data bem próxima e não havia condições emocionais para promover algo. Porém, não posso deixar passar em branco, uma vez que consideramos abril o mês da conscientização – e ainda acho válido contar minha história, que une autismo e scrap de forma única.
Quando tudo começou

Quando Raul estava com 1 ano e 1 mês, minha irmã me chamou a atenção pela falta de fala dele. Ele esbravejava, gritava, fazia humming (um barulhinho com a boca), mas não falava palavras inteiras, nem formulava pedidos como “água”, ou chamava “mamãe”. Na hora, achei que era só aquela história de “cada criança tem seu tempo”, mas aquilo ficou como uma pulguinha atrás da orelha… Marquei pediatra, e a mesma disse que, se ele me puxava pela mão para mostrar o que queria, era para eu me despreocupar – que uma hora ele falaria, que meninos são mais devagar mesmo…
Hoje eu sei que cada criança tem seu tempo dentro de um limite, e que é preciso observar se não há outros sinais junto com o atraso de fala – como a criança não apontar e não olhar para o cuidador ao querer compartilhar algo, andar na ponta dos pés, ter fascínio por objetos diferentes como ventiladores e rodas, apresentar movimentos estereotipados como flapping (balançar das mãos), querer só apertar botões, bater a cabeça no chão ou em qualquer lugar. E o Raul apresentava todos esses que descrevi – e outros ainda…
Não contente com a resposta, procurei na internet tudo sobre atraso de fala, até que felizmente caí no blog da Andrea Werner, Lagarta Vira Pupa, e foi ali que reconheci meu filho no filho dela. Marquei psiquiatras, neuropediatras e até psicopedagoga, porque eu queria respostas. Finalmente, quatro meses depois, tive o encaminhamento do psiquiatra para sessões de fono e terapia ocupacional especializada em integração sensorial. E esse começo foi bem difícil financeiramente, pois a gente descobre o quanto pagar um plano de saúde pode ser tão decepcionante quanto aguardar uma consulta pelo SUS.
O scrapbook como descoberta e ferramenta

Nessa época, eu já fazia scrapbook por encomendas e cursava faculdade online de Letras. E como a parte financeira estava falando mais alto, tranquei a faculdade e me dediquei aos álbuns e livros de assinaturas para venda. E, na mesma proporção que os pedidos chegavam, vinham pedidos para que eu ensinasse como fazer o scrapbook. Organizei, junto com uma amiga, a primeira aula presencial, que contou com a presença de amigas, professora e madrinhas do Raul. Ali eu plantei a sementinha que mais tarde me daria frutos – coisa que eu não fazia ideia!
O autismo como transformador de caminhos

E, na caminhada de aprendizado sobre autismo, fui aprendendo também a ser professora de scrapbook. Preparar as aulas me fazia sair do mundinho tão duro do autismo. Entre assistir a palestras sobre como aprender a lidar com meu filho, eu também estudava e aprendia sobre como compartilhar meu conhecimento com outras mulheres que, assim como eu, também estavam em busca de algo novo em suas vidas. E fazer scrap, mesmo que profissionalmente, foi o que me ajudou a não cair em tristeza profunda durante os primeiros anos pós-diagnóstico.
No meu caso, o diagnóstico trouxe não só um tratamento precoce para meu filho – melhorando muito sua vida por conta disso – como também nasceu em mim uma profissional das artes. Coisa que eu nunca imaginei. E é como eu sempre digo: nada é tão ruim ou tão bom… tem uma zona mista ali que é confortável, e é onde eu miro, sabe? Seria ótimo se meu filho não fosse autista… mas ele é – e o que eu me desenvolvi após o diagnóstico dele, talvez eu não tivesse desenvolvido caso ele fosse uma criança típica. E isso não significa que foi melhor ou pior. Só que é diferente. Que também é possível a gente ter uma vida após o diagnóstico.
Uma mensagem para outras mães

Por isso, se você está em busca do diagnóstico ou no início do recebimento dele, saiba que você também está tendo uma oportunidade de descobrir muita coisa sobre você mesma: uma nova profissão, um novo hobby ou um novo jeito de viver sua rotina. Você não precisa estar sozinha. Busque por grupos de ajuda ou grupos fora do autismo, como grupos de artesanato, dança, esportes… Tenho certeza de que você vai conhecer pessoas muito especiais na sua vida que vão fazer aqueles dias pesados ficarem mais leves.
E assim como o autismo me apresentou o Raul de um jeito único — me apresentou a mim mesma de um jeito novo também. 💙
Com carinho,